domingo, 30 de novembro de 2008

Borrão poético

Faz frio e neste frio aqueço-me devagar, sabendo que nenhum corpo pode aquecer com pressa, correndo o risco de se queimar nas orlas e continuar frio e inerte por dentro; tem de aguardar, com vagar, que o estalir crepitante e dissonante dos troncos despidos se funda num som constante. Assim me aqueço em ti, tronco ora disforme, ora massa quente e fulgente que chega até mim num som de gente. A dor apazigua-se e deixa-me quente. Aqueço-me em cada atomozinho da tua escrita e de outras escritas que em lume brando se mesclam com a tua, e se tornam na minha escrita sem assinatura. Assim me encontro, sem necessidade de acelerar este fogo que consome lento e que assim, devagar, eu sustento.