quarta-feira, 22 de julho de 2009

A Máscara

Já viram bem de perto a máscara da morte? Não uma máscara figurativa mas uma máscara dura e fria de tecidos humanos, forma do Não-Ser que ainda ontem era. Estas máscaras enterramo-las todos um dia e normalmente esquecemo-las, reportando-nos sempre ao Ser que habitou uma vida e não ao seu simulacro - aquela máscara dura e fria que se nos ofereceu à despedida. Não compreendo a insistência em colocarmos em câmara ardente a máscara da morte se não acreditamos que haja qualquer ligação afectiva e religiosa entre aquele Não-Ser e o Ser que recordamos depois pela vida fora. Há dez anos que não me lembro de visualizar aquela máscara dura e fria, impessoal e alheia ao mundo, mas um dia destes, do nada, dei comigo a lembrá-la. Por mais que procurasse desviar-me para a recordação mais habitual, a minha mente insistia sempre naquele fotograma derradeiro e enganador.