domingo, 19 de abril de 2009

«Isto»

O que é um «isto» não depende do nosso capricho ou da nossa vontade, mas, na medida em que depende de nós, depende também, em igual medida, da coisa.
Die Frage Nach dem Ding, Martin Heidegger
Este amor não sou eu, não és tu mas também não está fora de nós. Embora se saiba que este amor é aqui e agora, é isto, ele não é o aqui e agora, o aqui e agora contêm-no e a coisa que ele é depende de nós e da coisa em si, mesmo que não se possa saber o que é a coisa em si, mesmo que não saibamos a coisa que somos e como participamos na construção de uma outra coisa fora de nós. Sem pétala engelhada e cansada, a água não se faz presença. Beber depende mais do amor da coisa do que da coisa do amor. Bebe-se porque se tem sede, não porque existe água. Tem de haver uma essência da coisa para que se constitua o fenómeno. Ser já é amar, ainda que não seja o amor, sendo que este amar não pode ser o este amor de aqui e agora materializado assim. Vive-se amor mas não este. Conforta-nos saber que nunca seria este?

Entretanto, as criadas de quarto riem-se de nós... de tanto querermos apreender a coisa, olhamos o céu e caimos no poço.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Sem deuses nem deus, vaporizemo-nos com amor! Com dor, mas viva-se a par da morte em vida. Queres um bocadinho do meu amor? Então quem sabe amanhã...

O amor... tem muitas cores e tonalidades e é tão fraco como quem o sente. Não retiremos tonalidades às nuvéns - amo e sofro, amo e odeio, amo e ressinto-me, amo e guardo, amo e retribuo, amo e exijo, amo e grito, amo e acobardo-me, amo e espero, amo e calo, amo e como, amo e passo fome... amo e desamo... mas o que fica no fundo do pote é o nosso fraco amor, não é? Malgrado os vapores que continuamos a transportar à margem do que se depositou em nós... vivemos e amamos. Amei e amo mesmo que desaprenda a conjugar. O amor é como a música, pode sempre voltar a ser tocada - é um momentum perpetuum. Sem deus nem deuses, como podemos viver sem amor?