domingo, 27 de setembro de 2009

Dos nossos momentos

Acabo de ver um pequeno filme sobre os momentos - um enternecedor registo de momentos que quem vê não pode deixar de sentir como idênticos aos que por si foram já vivenciados ou contemplados. É disso que se vive, de muitos momentos contíguos. É isso, o banal, o comum a todos, o não reflectido, que temos arredado das nossas vidas em conjunto. Quantos momentos nos passam pela janela da memória sem a nossa marca na vida do outro... Se vivemos ao contrário de toda a gente, separados que estamos, não é isso a demonstração de que somos diferentes. Não somos. Projectamos. Imaginamos. Invejamos. Esperamos. Observo os momentos dos outros e revejo o que já vivi. Então não vivo. Passam velozes esses momentos porque são muitos. Quando penso nos nossos momentos, eles surgem-me marcados pela singularidade e lentos, pois são poucos e descontínuos. Não são singulares, são singularizáveis. Apenas isso. Somos efectivamente crianças quando entrelaçamos os dedos e nos beijamos, quando falamos e olhamos o rosto do outro. Mas crianças com uma certa velhice paralela ao nosso ainda inocente amor iniciático. Tudo é singular mas tenho fome da reminiscente banalidade de viver o momento. É assim que se vive. De outra forma tudo não passa de um simulacro do que podíamos efectivamente viver. Quando será o momento de viver o momento? Quando chegará a hora de medirmos o amor ao segundo e enchermos o baú de recordações de momentos passados juntos à luz da idade que efectivamente temos...