domingo, 12 de julho de 2009

Rocinante

No outro dia a minha mãe contou-me pedaços de uma história. Uma mulher como tantas que perde o marido levado pela morte. Essa mulher recusava-se a sair à rua após a morte do seu mais-que-tudo. Nunca saía à rua sem a sua companhia e foi o seu cão que a salvou após a morte daquele. Por ele, necessitado de visitas diárias ao exterior da casa da dona, ela encontrou a obrigação que a libertou de um caminho sem saída. Está muito agradecida aos passos do cão que ainda hoje a guia. Segue o seu faro e por ele reaprendeu a pisar terrenos desconhecidos. O seu cão-guia impediu-a de cegar e vê o mundo pelos seus olhos fiéis. Fiel à sua condição, salva-a um cão que não desiste de calcorrear os caminhos necessários. Ontem fui passear e vi muitos cães-terapeutas.

Eu caço com gato, o meu Rocinante fiel que sofre se não sigo as suas necessidades. Ainda assim, o meu gato procura um vaso de terra fofa para esconder os seus dejectos quando a cama habitual da sua higiene não está limpa. Ele perdoa-me o descuido da areia suja e encontra o seu caminho sozinho, sem manifestar desconsolo por ter uma dona que se esquece dele. Quando decido seguir-lhe os passos, vê-lo ao nível do seu focinho, de seus olhos, sempre acabo por descobrir que há um caminho à minha frente, daqueles caminhos singelos mas necessários que só os Rocinantes desta vida encontram. Sem calcorrear esses caminhos singelos da necessidade, não chegamos a nenhum outro.

Obrigada, meu fiel Rocinante.