quinta-feira, 2 de julho de 2009

Joaninha

Joaninha voa, voa
Que o teu pai foi p'ra Lisboa.
Aproveita o que não doa
E repara a asa triste.

Se ele pisou fundo,
As asas quebra-as o teu eu
Que ele tomou como seu
Mas não quem tu és.

Joaninha, voa, voa
E chora teu vôo curto.
De choro não haja furto
De quem foi pr'a Lisboa.


Dedicatória a uma menina doce.

Nos teus braços

Preciso de ti, de teus braços de que, ontem, a braços com os meus, fiz esboço. Preciso dos teus braços, dos mesmos desenhados para me abraçar e para acertar com a bola no cesto.

Ajudem-me a ajudar!

Descobri ontem que os vizinhos de baixo mantêm uma família de gatos (mãe e filho, deduzo) na varanda das traseiras, ela presa por uma trela e os dois a dormir junto do caixote de areia onde fazem as suas necessidades. São condições precárias para dois gatos. Assim não podem explorar o seu território, nem usar os seus instintos para se sentirem seguros. Podem bem adoecer mentalmente. Pelo que observo, estão sempre lá. Podem os meus recentes vizinhos até ter motivos sérios para tomar tais medidas de manter os gatos assim à parte da família humana (alergia de algum deles, gravidez da mãe, ...) mas mais lhes valia dar os gatos a quem possa tratar deles convenientemente. Estou tentada a contactar a Protecção de Animais. Que acham? Que poderá fazer a Protecção de Animais pelos bichos neste caso... a solução será melhor do que o problema? A sorte dos animais mantidos em canis e gatis não me parece melhor. Podia experimentar falar com os vizinhos mas não os conheço e receio que não vejam com bons olhos a minha intromissão. Quando estive a viver no Algarve tive fortes suspeitas de maus tratos por parte de uma vizinha em relação à filha e chamei a polícia mas de nada adiantou. Tinham de apanhar a mãe em flagrante. Naquele caso talvez devesse ter contactado uma comissão da Protecção de Menores mas tinha fortes dúvidas do seu bom funcionamento, além de que as minhas suspeitas eram meros indícios trazidos pelo que ouvia que, acreditem-me, me parecia ir para além de uma troca de palavras mais acesa. Mas se funciona mal o organismo que defende o bem-estar das crianças humanas, aquele que deve garantir a sua protecção em caso de risco, funcionará melhor o da protecção dos animais? Aceita-se palpites. Ajudem-me a ajudar!

Caixa de Música

Reclinada rigidamente sobre uma cadeira imperfeita, disfarço mal a inquietude que me roubou o dia. Por causa dela não pára de crescer o sabor amargo que trago na boca seca. Roubei-me eu ao dia como a tantos dias sei lá por que via. Mas deste furtei-me por causa de um outro dia, de um beijo que não tomei à despedida. Por causa desse dia sofro do mal que já me conhece bem - neste dia. A inquietude sobra sempre para o dia seguinte como a ansiedade faz morrer o dia anterior. Nada oiço atentamente, pouco leio ou, se o faço, adormeço. Percorro em ensaios desgastantes soluções que me redimam a falha de um beijo. Um gato que se salve ao menos neste dia inútil de fatias de pão seco. Pego então numa caixinha de música igual à que detém um menino que, até ver, não precisa de uma caixinha de música guardada. Assim é por ser menino - irrequieto mas desconhecedor do sabor da inquietude. O olhar do menino embala-me e entro com ele na caixinha, à espera de um novo dia.

Nós também reparamos na caça grossa

Estive cá a matutar com os meus botões, a procurar lembrar-me de paixões avassaladoras, daquelas que se cozinha como a mousse Alsa, passo a publicidade em nome do imaginário de toda uma geração, que se inventa com estranhos com quem nos cruzamos na rua, quase de relance, fenómeno que, estou em crer, sucede com muito maior frequência com os homens quando se cruzam com belas desconhecidas (que me perdoem os homossexuais a discriminação, tal prende-se momentaneamente com a necessidade de reduzir o pensamento a um estereótipo, já que daqui não sairá nada de criativo e original). Não precisei de pensar muito, esse fenómeno só sucedeu comigo em duas ocasiões. Lembro-me perfeitamente dos locais e das circunstâncias em que a Vontade não superou o desejo de contemplar os belos que por mim passaram, e lembro-me que eram particularmente belos, altos e espadaúdos, bem vestidos e de olhar inteligente e indiciando bom carácter (fosse esse o caso ou não - nunca o pude confirmar). Na primeira situação tive mesmo de girar o pescoço para lá do que é socialmente aceite vindo o gesto de uma mulher que aprecia a beleza encarnada da masculinidade. Da segunda vez, e de novo atraída pelos fortes atributos que me deixaram siderada da primeira vez, fui mais longe, já que o jovem cavalheiro de ar distinto se fazia acompanhar, no Passeio Alegre, de um belo cachorrinho, pretexto por mim usado até ao limite da decência para prolongar aquele doce encantamento. Desta vez o estranho sorriu-me por momentos quando os nossos olhos se cruzaram "casualmente", já que os dois seguiamos o bichinho, cada qual em sentido oposto ao do outro, quase na dinâmica do anúncio do Impulse. Quase! Eu não tinha flores para lhe oferecer. Em ambos os casos corei até às orelhas, o calor que senti atestou-me da veracidade do que pensei e aqui escrevo. Desde esses momentos mágicos, nunca mais repetidos, que me pergunto se é assim com essa força toda que os homens se torcem na rua para olhar uma mulher bonita que passa, mesmo com a mãe, a namorada ou a mulher ao lado. Eu, por mim falo, só me deixo assim acorrentar a esse impulso irracional, mas irresístivel, quando o homem em questão reúne atributos físicos excêntricos e um ar de corresponder por dentro ao desejo forte que instigou a sua figura.