terça-feira, 27 de outubro de 2009

Mortos-vivos e nados-mortos

Se conseguisse, perdoava-te. Perdoava-te sempre se pudesse mas já nem a esperança de um pedinte sobrevive à clara realidade que mora no meu peito. Ainda subsiste algum clarão de lucidez que resiste às feridas mas habita o meu peito a mágoa de um enjeitado, sentimento horrível que desfazia se pudesse. Estou doente e sei que doente não amo. Como posso resignar-me ao fim do amor que nem nasceu? Não posso mas ele morre e eu estou como morta. Acrescento-lhe a alucinação de um alimento que ele já não pode aceitar. Morta-viva. Fui eu, fui eu, fui eu a responsável de tomar nos braços uma ilusão, de incubar um nado-morto. Fui eu a responsável pelo que alojei e bem sei o quanto me consolou. Perdoava-me se pudesse.
Perdoa-te se puderes.

2 comentários:

Anónimo disse...

Que sortilégio esse nado, esse morto.
Seu nome escondia-se detrás de uma fachada, a ordenar volúveis rostos, ou muros, ou barragens.

Nas divindades atónicas das pequenas coisas, e nos deuses minúsculos que comandam o sonho extenso; eis que jaz morto e arrefece, um corpo nu, pela aurora, a desafiar a inexorável roda do tempo. Foi esse o momento, esse muro, essa barragem. Embriagado, cumpriu antecipado o próprio fado, sem chegar a conhecer os pausados tons d`Outono.

Carpin.

Anónimo disse...

Um morto-vivo não suporta a alegria, a sensibilidade e a liberdade dos vivos. Para viver precisa de reduzir tudo à sua natureza.