quinta-feira, 2 de julho de 2009

Caixa de Música

Reclinada rigidamente sobre uma cadeira imperfeita, disfarço mal a inquietude que me roubou o dia. Por causa dela não pára de crescer o sabor amargo que trago na boca seca. Roubei-me eu ao dia como a tantos dias sei lá por que via. Mas deste furtei-me por causa de um outro dia, de um beijo que não tomei à despedida. Por causa desse dia sofro do mal que já me conhece bem - neste dia. A inquietude sobra sempre para o dia seguinte como a ansiedade faz morrer o dia anterior. Nada oiço atentamente, pouco leio ou, se o faço, adormeço. Percorro em ensaios desgastantes soluções que me redimam a falha de um beijo. Um gato que se salve ao menos neste dia inútil de fatias de pão seco. Pego então numa caixinha de música igual à que detém um menino que, até ver, não precisa de uma caixinha de música guardada. Assim é por ser menino - irrequieto mas desconhecedor do sabor da inquietude. O olhar do menino embala-me e entro com ele na caixinha, à espera de um novo dia.

Sem comentários: