sábado, 29 de novembro de 2008

À direita de Deus

"Quando Deus fez os homens, o seu objectivo supremo foi a existência específica de almas individuais. E do mesmo modo que dispomos apenas de três fontes para conhecer o Criador (a saber a Bíblia, a filosofia da Idade Média e a tranquilidade da nossa alma), parece-nos que a «verdade» ou os «conteúdos objectivos» nunca despertaram a atenção de Deus. Ele não engendrou «ideias» (embora a coisa não seja inteiramente inconcebível), mas relativismos biológicos tais como Adão ou as flores. A criação de Eva opõe-se de facto - e muito tendenciosamente - à aspiração simétrica do pensamento; a bela não brotou de um acto especial - não, surgiu como uma espécie de post-scriptum a Adão. Agindo deste modo, Deus fez notar que não queria ordem nem cosmos, mas algo diferente - e não necessariamente o «caos» (contrário demasiado cómodo!). Na verdade, Deus é humanista, selvagem e a-teoricamente sedento de homem puro - e por isso mesmo, do indivíduo ou da loucura privada anti-objectiva metida na alma!"

À Margem de Casanova, in O Breviário de Santo Orféu, Miklós Szentkuthy




Apetecia continuar a citar mas tenho horários a respeitar.

Apetece, ainda assim, acrescentar, Deus é do PSD, se não mesmo do PP, quando muito da ala direita do PS. E vejam lá se como »ideia» a minha não prima pela simetria. Cómoda esta ideia, é um facto - com os modernistas, estas coisas deixaram de ser assim tão taxativas e lineares.

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