sábado, 29 de novembro de 2008

Vassouras da Alma

Eles fornecem as vassouras, os aforismos, que teimemos em varrer para debaixo do tapete, não é culpa da vassoura. Mas estou em crer que viver é "Como um caminho no Outono: mal acaba de ser varrido, volta a ficar coberto de folhas." Aforismo de páginas abertas ao acaso, ou talvez não: "Foi-lhes dado a escolher entre serem reis ou mensageiros do rei. Como é típico das crianças, quiseram todos ser mensageiros. Por isso existem tantos mensageiros; percorrem o mundo e, uma vez que não existem reis, gritam uns para os outros as mensagens, que deixaram entretanto de fazer sentido. Gostariam de pôr fim às suas vidas miseráveis, mas não se atrevem por causa do juramento que prestaram." " Há perguntas que não conseguiríamos superar se não estivessemos, por natureza, dispensados delas." " Ele é um cidadão livre e protegido da terra, pois está preso a uma corrente suficientemente longa para lhe permitir aceder a todos os espaços da terra, mas não tão longa que permita que ele seja arrancado para além dos limites da terra. Ao mesmo tempo, é também um cidadão livre e protegido do céu, pois está preso a uma corrente semelhante. Se quer ir para a terra, é estrangulado pela corrente do céu, se quer ir para o céu, pela da terra. No entanto, tem todas as possibilidades e sente-o; recusa-se mesmo a remontar toda esta situação a um erro aquando da primeira vez que foi acorrentado." "Ele corre atrás dos factos como um patinador principiante que, ainda por cima, se exercita num sítio onde isso é proíbido." "Ele sente-se prisioneiro nesta terra, sente-se apertado; declaram-se nele as tristezas, as fraquezas, as doenças, as alucinações dos prisioneiros, nenhum consolo é capaz de o consolar, precisamente porque é apenas consolo, terno consolo que causa dores de cabeça face à rude realidade de estar prisioneiro. Mas se se lhe pergunta o que é que ele quer afinal, não consegue responder, pois não tem qualquer ideia de liberdade - e este é um dos seus argumentos mais fortes."
In Aforismos de Franz Kafka

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